7 campeões de audiência do 30dePassagem comentam seus posts viajeiros!

Por Maurício Kanno

Passado meio ano deste projeto, vamos ver quais foram os posts de maior audiência e repercussão do site, e saber o que seus autores têm a dizer sobre eles!

Em termos geográficos, tivemos do exterior Alemanha e Portugal, na Europa; além da Índia, na Ásia. No Brasil, além de um post sobre caminhos pelo Brasil em geral, entrou São Paulo (SP), Curitiba (Paraná) e Manaus (Amazonas)!

E mais que isso, como esses lugares foram abordados? O post líder absoluto foi sobre mudança definitiva de país; o segundo, muito surpreendentemente, falou sobre um bairro da periferia paulistana!

Seguiram-se um post sobre caminhos a pé pelo Brasil; e um depoimento de uma cadeirante numa cidade frequentemente elogiada (mas a experiência da autora não foi lá tão boa).

Para terminar, tivemos Ovar, uma cidadezinha desconhecida de Portugal, país europeu não muito badalado; e um post bem crítico sobre uma experiência de um mês na Índia.

  • São os três campeões de 2017:

Mudar de vez: Os brasileiros da Alemanha (Por Paula Dassie) – 729 visitas

São Mateus, Zona Leste de São Paulo (Por Thina Curtis) – 136 visitas

Caminhos da vida – Uma viagem interior (Brasil) (Por Márcio Gomes Moreira) – 67 visitas

  • São os quatro campeões de 2016 (dois empatados no terceiro lugar):

Rodando por Curitiba (Por Ana Kafray) – 67 visitas

Floresta Amazônica e o reforço dos estereótipos (Manaus) (Por Ângela Teberga) – 66 visitas

Ovar, uma lindeza de Portugal (Por Evely Reyes Prado) – 65 visitas

Decifrando um código antigo – Índia (Por Janaína Reis Malagoli) – 65 visitas

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[Desconsiderei apenas quanto à audiência a página inicial do blog, a página da equipe/cronograma e a de introdução geral sobre o projeto, pois elas têm maior destaque mesmo sempre e servem para apresentar o blog/site como um todo.]

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2017

Mudar de vez: Os brasileiros da Alemanha

Por Paula Dassie – 729 visitas

dassie

1) Maurício Kanno: Por que acha que esse texto especialmente acabou sendo campeão de audiencia no site?

Paula Dassie: Além de ser uma questão muito atual, mudar de país em definitivo mexe com sentimentos que só quem vive isso consegue explicar. Acredito que através desse texto eu tenha conseguido tocar de maneira íntima e, paradoxalmente, abrangente nesses sentimentos.

Ao ato de deslocar-se pelo mundo, de sair da zona de conforto, de viajar, subjaz um profundo autoconhecimento. Muitas pessoas se identificaram com isso e se emocionaram, o que gerou compartilhamentos. Como mencionei no texto: nós, brasileiros morando no exterior, onde quer que seja, somos uma grande família.

2) MK: O que significa pra você como viajante e blogueira que tenha conseguido esse feito, num site com tantos autores (uns 20)?

PD: Para mim foi uma surpresa! E um sopro de esperança em relação à leitura. Nunca acreditei que “as pessoas não leem mais…”. Esse tipo de generalização não funciona, é coisa antiga. As pessoas leem, sim. Basta saber como chegar até o coração do seu público.

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São Mateus, Zona Leste de São Paulo

Por Thina Curtis – 136 visitas

sao mateus

1) MK: Por que acha que esse texto especialmente acabou sendo vice campeão de audiência de 2017 no site?

Thina Curtis: Para mim foi uma surpresa, até pelo tema ser muito simples pensando em turismo, creio que foi essa simplicidade, esse tipo de entretenimento que não é tão conhecido pela maioria das pessoas, principalmente por ser em periferia onde a maioria acredita que só exista criminalidade e miséria.

2) MK: O que significa pra vc como ativista cultural, viajante e blogueira que tenha conseguido esse feito, num site de viagens (incluindo destinos tão fantásticos e luxuosos ou distantes como Paris, Austrália e Japão) e com tantos autores (uns 20)?

TC: Puxa! foi um convite que adorei logo de cara por ser algo que eu adoro, eu tenho uma coluna sobre dicas de turismo no meu fanzine Spell Work e adoro escrever e comentar sobre isso.

E para mim mostra quantas possibilidades incríveis temos as vezes tão próximo e desconhecemos. Creio que tudo que envolva arte, cultura é um chamariz natural, as pessoas querem conhecer, saber agora de verdade eu não sei como consegui esse feito rs.

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Caminhos da vida – Uma viagem interior (Brasil)

Por Márcio Gomes Moreira – 67 visitas

VLUU L100, M100  / Samsung L100, M100

1) Acredito que quem leu conseguiu sentir a emoção de se fazer um caminho ou tem vontade de passar pela experiência. Quem nunca teve vontade de sair andando por aí? Muitos leitores devem ter se identificado com esse sonho de liberdade… E as fotos também devem ter ajudado na audiência rsrs

2) Muito significativo pra mim além de servir como incentivo para escrever mais. Todas experiências compartilhadas no blog são lindas e só me dão mais e mais vontade de conhecer cada pedacinho desse nosso planeta. Quero poder transmitir esse sentimento de empoderamento interior, esse sentimento de liberdade, “eu quero eu posso”, convidar a todos para que simplesmente “permitam-se vivenciar intensamente essa experiência chamada VIDA”.

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2016

Rodando por Curitiba

Por Ana Kafray – 67 visitas

rodando curitiba

Me sinto feliz em poder dividir com as pessoas um pouco das minhas experiências Acho que o que chamou a atenção foi o fato de ser escrito por mim que sou cadeirante, e além das pessoas terem curiosidade sobre minha vida, muitas pessoas tb por necessidade própria querem saber como um cadeirante se vira nessas horas de viagens e afins.

Um dia eu pretendo voltar a Curitiba. Mas nunca mais dirigindo hahaha… Fica muito cansativo.

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Floresta Amazônica e o reforço dos estereótipos (Manaus)

Por Ângela Teberga – 66 visitas

floresta amazonica

1) Tenho a impressão (não saberia confirmar em números) que está aumentando a quantidade de pessoas interessadas em conhecer o destino turístico para além do que é vendido em campanhas promocionais (públicas e privadas, de agências, por exemplo). É uma tendência que vem sendo chamada de Turismo de Experiência. Embora muitos já o praticavam, agora a academia e o mercado “criaram” esse segmento.

2) Está sendo minha primeira experiência em blogs de viagem. É um gênero textual diferente do que estou acostumada. Posso ficar mais livre para escrever sem a preocupação que um texto científico exige. De toda forma, pela minha formação na área, escrevo com um maior preciosismo em relação à terminologia técnica e com um maior cuidado para não escorregar em esteriótipos e críticas superficiais.

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Ovar, uma lindeza de Portugal

Por Evely Reyes Prado – 65 visitas

ovar

1) Bem, em primeiro lugar, é para mim uma grande honra fazer parte deste blog com tanta gente boa e competente, e eu só tenho a agradecer a todos e em especial ao Mauricio Kanno, que foi quem me proporcionou esta alegria. Não sei quais foram os dois primeiros lugares, mas claro que me sinto muito feliz pela conquista do terceiro. Não estamos aqui participando de competições entre nós, porque o interesse maior é apresentar as impressões que tivemos diante dos lugares visitados, pelo olhar de cada um e seu particular jeito de ver a vida.

Ovar é linda por si só e tem um encanto único por sua simplicidade. Talvez o meu amor pela cidade e pelas pessoas com as quais convivi tenha feito reluzir o texto de maneira diferente e flechado o coração de quem o leu. Só posso ficar ainda mais contente, porque amo Ovar.

2) É uma imensa alegria apresentar Ovar a quem não conhece e mais ainda por ser uma cidade de Portugal, que é um país lindíssimo, não tão famoso e concorrido como os demais da Europa, mas com lugares maravilhosos e deslumbrantes. Está sendo descoberto e há muito para mostrar e encantar o turista que aqui chega. Eu fico extremamente contente pela oportunidade e pela conquista, e acredito que as pequenas cidades têm esse charme pelos próprios moradores que ainda preservam sua autenticidade e enxergam a vida de uma maneira mais natural diante da proximidade com a Mãe Natureza. A vitória é de Ovar e de seus habitantes.

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Decifrando um código antigo – Índia

Por Janaína Reis Malagoli – 65 visitas

india

1) Creio que as pessoas gostam de saber mais a respeito da rotina e costumes em outras culturas o que não é tão comum quando se escreve a respeito de viagens.

2 ) Me traz grande satisfação ver que consegui transmitir um pouco do que vivi neste mês intenso que passei na Índia, que os leitores também têm interesse em se conectar com a realidade de outras culturas e não apenas viajar para conhecer pontos turísticos, seja presencialmente ou via leitura.

Mudar de vez: os brasileiros da Alemanha, por Paula Dassie

Faz 10 anos que deixei o Brasil. Nunca mais voltei. Não por falta de vontade: obviamente existem muitos abraços por dar, muitas desculpas e satisfações por pedir, muita saudade viva; muitas pessoas amadas por rever ou conhecer pessoalmente. Alguns não puderam esperar e já se foram, sem tempo para um adeus. A presença física jamais será superada pela tecnologia.

Mas o Brasil se tornou insalubre, infelizmente. Tive de sair quando a oportunidade surgiu. Saí para proteger minha família e poder respirar. Sair do país foi a decisão racional. A oportunidade: Alemanha.

A mudança: o medo bom

Sim, mudar de país dá medo. Mas é um medo bom. Não aquele medo visceral que eu sentia a cada vez em que saía da garagem do meu prédio em São Paulo. Em cada vez que parava no farol. Em cada vez que ligava a televisão. Ou o ápice: quando tivemos um arrastão com metralhadoras e helicópteros, e tivemos de ficar quietos, escondidos, dentro do próprio apartamento, com meu bebê sobre a cama, dormindo.

Não esse tipo de medo, que destrói. É o medo que a gente sente na fila da montanha russa. Na sala de espera da entrevista do primeiro emprego. Nos segundos antes de saber se passamos numa prova, se a janelinha do teste de gravidez vai ficar azul, se vai ser menino ou menina. Medo bom.

A papelada é imensa, assusta. Traduções, certificados, certidões, quitações. Os custos também são altos. Mudança com contêiner, que só chegaria seis meses depois. Dez malas grandes para embarcar. O hotel dos últimos dias, já que vendemos tudo o que tínhamos.

Passaportes, passagens, dinheiro. E eu de cadeira de rodas, com o pé quebrado. Tudo acontece de última hora. Todas as dúvidas aparecem antes do embarque. Eu conheço a língua o suficiente? Eu fiz tudo o que tinha de fazer? Os gatos vão ser felizes com os novos donos? Quem serão os amigos que o futuro reservou para mim? E os inimigos?

Nunca nos sentimos suficientemente preparados. Nunca estaremos – mas isso não é importante. O importante é ter a coragem de ir. Eu fui, fomos, sem despedidas no aeroporto. Muitas mágoas na bagagem. Muita esperança também.

Renascendo

 A primeira noite em minha casa foi em claro, porque eu não tinha muro, grades, guarita, alarme ou travas na porta. Os esquilos e martas faziam seus barulhinhos no jardim e um gato andava pelo telhado, mas meus fantasmas esperavam pelo pior. Exorcismá-los foi um trabalho de paciência e disciplina, e durou muitos meses. As familiares sirenes e buzinas, ruídos de conforto paradoxal, não existiam mais. Nem mesmo a vizinha insuportável do andar de cima, com seu saltinho martelando o porcelanato e o meu cérebro, ida e volta, dia e noite. Ou o aparelho de som dos vizinhos do lado, que faziam um sanduíche psicótico com minha hiperacusia. O alívio – que, no princípio, era tormento – não existe no Brasil de São Paulo.

E, de repente, eu estava ali, andando à noite, sozinha, na rua, pela primeira vez na vida. Foi difícil relaxar. Mas o ritmo dos passos no asfalto molhado, no compasso da ponta do guarda-chuva fechado, logo acalmaram minha respiração e se tornaram melodia. Uma melodia que jamais me deixou; que apazigua meus traumas paulistanos e vão fechando as feridas abertas.

Eu, imigrante

Depois de ter passado pela prova de coragem da mudança, pelo mergulho no medo do novo e pelo deslumbramento com a paz, precisei tomar fôlego para me integrar. Nesta fase, a grande ameaça é a depressão. Ela surge por volta do terceiro ano morando fora, principalmente quando se tem filhos pequenos. Descobri que precisaria ser muito mais autossufuciente do que jamais imaginara – e ainda: sem familiares, sem ajuda, em outra língua.

Situações corriqueiras, num país estrangeiro, são desafios. A neve, a comida, a sociedade, o sistema de saúde, os impostos, o leite, a política, os terroristas. Tudo deixa de ser óbvio, comum. Tudo é diferente. Ficamos exaustos com as escolhas conscientes diárias obrigatórias, mas não temos, ainda, com quem reclamar ou desabafar.

Sou descendente de muitas pátrias europeias, inclusive da Alemanha. Fico imaginando meu bisavô alemão Martim a bordo do navio, com o pensamento na linha do horizonte. Um dia quero me sentar com ele em algum canto da eternidade e trocar figurinhas. O que será que o fez partir tão cedo, aos 33 anos de idade? Teria sido essa solidão imensa que todos nós sentimos quando descobrimos que não temos mais raízes? Será que não conseguiu se integrar? Será que ele perdeu a esperança em algum ponto da travessia do oceano? Ou será que foi chamado por ter cumprido sua missão?

Tu, imigrante

E então, um dia, com o travesseiro molhado e o coração cansado de sofrer, decidi me levantar da cama e abrir as cortinas. Era hora de conquistar a Alemanha! Hora de fazer parte, de me integrar. Percebi que para ser alguém é preciso também pertencer.

As primeiras reuniões sociais parecem surreais: eu não sabia que tinha de levar flores e vinho. Não sabia que teria de tirar os sapatos. Menos ainda que a próxima visita, o próximo encontro, teria de ser na minha casa, já que fui convidada. Não sabia que tinha de ser pontualíssima (mas fui, por sorte; por ser naturalmente assim). Que a noite seria leve e agradável, com uma pitada de formalidade. Que, depois daquela noite, não existiria, necessariamente, uma amizade, e que, se existisse, não seria sequer comparável com uma boa amizade brasileira. E que também estaria bom assim. Por que não?

Mas perdemos as piadas e nem sempre rimos na hora certa. Achamos graça de coisas banais e somos literais demais para perceber a linguagem figurada. Depois, com o tempo, vamos pegando o jeito. As respostas às perguntas inicialmente difíceis passam a virar mantras: “sim, gosto daqui; sim, já me acostumei; não, ainda está frio para mim; desculpe meu alemão; não, não falo espanhol, mas entendo tudo”. E, claro, surgem alguns absurdos: “Mas você não parece brasileira! Então é casada com um alemão, né? Não? Com um brasileiro? E mesmo assim veio para cá? Que interessante…”.

A diferença é que recebemos sorrisos, e não meios-sorrisos. São sinceros. Nossa sorte é que, apesar de tudo o que aprontamos no nosso país, os alemães continuam gostando muito dos brasileiros.

Nós, brasileiros

E então, na escola, no boliche, nas lojas, na piscina pública, ouvimos uma palavra em português, com sotaque brasileiro. Olhamos para o lado e, mesmo sem uma palavra, nos reconhecemos. A amizade é instantânea. Não existem julgamentos ou antipatias. Você é brasileiro!

É como poder matar a saudade na voz do outro, no sotaque, na gíria que não chegamos a conhecer. Um aperto de mão formal, a princípio – porque estamos na Alemanha. Mas trocamos telefones, sejamos homens, mulheres, jovens, velhos, azuis ou unicórnios. Com o tempo, passamos a perceber que o carioca que conhecemos ontem mora no prédio da curitibana que conhecemos hoje, e que a paulistana da escola morava no mesmo bairro que eu, no Brasil. O baiano que é músico, que conhecemos na comunidade brasileira do Facebook, topa tocar numa gig na semana que vem. Ele conhece o goiano que toca percussão com o capoeirista – aquele, que é professor das crianças. E todos conhecemos aquela senhora que faz as coxinhas.

Os brasileiros, aqui fora, somos uma família. Somos um grupo de pessoas que, de outra forma, jamais teríamos conhecido – e teríamos perdido a oportunidade de amar. Às vezes somos convidados para uma festa na casa de uma mineira só porque somos brasileiros. Ou nos pegamos mexendo levemente o corpo, acompanhando um ritmo como o forró – que eu, roqueira paulistana de berço, jamais apreciaria no Brasil. É uma experiência preciosa, de valores que só conseguimos avaliar estando fora do nosso país.

Temos redes no jardim, sob a macieira; farofa com Leberwurst; brigadeiro com Gummibärchen. Temos shows de MPB, festas de feijoada, editoras teuto-brasileiras e até um ponto de encontro em Frankfurt com coxinha, guaraná, açaí na tigela, bolo de fubá e caipirinha (muito disputado e bem frequentado por alemães, aliás).

Nós, brasileiros, trazemos conosco nossa intensidade cultural individualizada. Assim, aqui podemos dar valor a facetas da nossa própria cultura e compartilhá-las com os outros – brasileiros ou não, mas sempre interessados. Somos interessantes pela própria natureza. E a cultura brasileira, muito admirada aqui na Alemanha, não se limita a “futebol, carnaval e mulatas” – apesar de elas aparecerem, sim, nas festas brasileiras e churrascarias, lindíssimas e fantasiadas, um sucesso.

Temos espaço, temos segurança, somos queridos. Acho que é porque, acima de tudo, nós, brasileiros, respeitamos a cultura daqui. Sim, somos imigrantes – mas, em geral, ficamos porque gostamos. Trazemos alegria para os dias frios e calor para alguns coraçõezinhos alemães mais resilientes. Temos sempre um sorriso, um toque caloroso, uma palavra amiga, uma comidinha gostosa, um jeitinho alegre. Nós, brasileiros, acrescentamos sempre. E trazemos a paz e esperança para o irmão estrangeiro, numa época em que o diferente traz tanta insegurança. Nós não somos ameaça para os alemães.

Dez anos depois

 Hoje me considero “meia alemã, meia brasileira”, como aquela pizza do Bixiga. Apesar do meu alemão funcionar apenas durante algumas horas, em alguns dias da semana, posso dizer que não me fechei num gueto. Tenho, sim, muitos amigos, alemães e brasileiros, com muito orgulho. Mas nada de “alemão é frio”. São diferentes: outra cultura, como esperado. Uma cultura muito interessante, aliás. Mais cabeça, organizada, consequente, certamente formal. Com menos Sol e água sempre “com bolinhas”, mas com muito bom humor e bastante inocência, apesar de os alemães serem os ases dos debates. É o que acham, pelo menos…

 Estou escrevendo de uma mesa na rádio da cidade. Aqui tenho um programa mensal de rádio, onde divulgo a música brasileira com outros dois amigos cariocas. E ontem foi dia de ensaio da minha banda de jazz e bossa nova. Sou a única brasileira (por sorte deles, a cantora). Trabalho com tradução, livros e mais livros. Sim, o Brasil também é aqui.

Aliás, digo que descobri o Brasil na Alemanha. Conheci a música brasileira em Frankfurt, numa palestra de um jornalista musical que acabou virando meu irmão. Também descobri a nossa cultura indígena em uma coleção incalculável e incrível de cocares e peças de artesanato, guardada numa casa comum em uma cidadezinha alemã. E a bossa nova foi-me apresentada por um trio de músicos alemães.

Com o tempo, acabamos convidando Deus e o mundo para vir visitar. É uma felicidade imensa quando algum amigo passa uns dias aqui comigo. Ou quando alguém manda uma caixa com Sonho de Valsa e gibis da Turma da Mônica. As pequenas coisas do Brasil passam a ser imensas. E a saudade também.

Saudade

É claro que eu gostaria de voltar para o Brasil, mas apenas para visitar. Hoje, ontem, uma hora dessas. Mas tenho de contar com o amanhã. Pois o Brasil que deixei há dez anos já não existe mais. A São Paulo que deixei era diferente. Está tudo muito tenso, intenso, caótico e mais perigoso ainda.

Falta coragem: coragem para voltar. Tenho medo do medo que sentia todos os dias. E medo do dia em que eu tiver de voltar para cá. Da viagem de volta. Durante os anos de Alemanha, fiz e refiz muitos amigos no Brasil, pelas redes sociais. Pessoas com que trabalho, com quem tenho projetos reais. Fiz as pazes com pessoas importantes da minha vida.

Sim, desta vez haveria despedidas no aeroporto – ah, muitas! E confesso: hoje, meu único medo é o da saudade do Brasil.

Por Paula Dassie