Uma rápida experiência em Bogotá

Por Sandra Rybicki

Das diversas vezes que passei por Bogotá eu estava apenas em trânsito, indo não muito além dos arredores do Aeroporto de El Dorado. Ano passado a mesma história iria se repetir, mas como desta vez minha programação estava tranquila, tomei uma atitude e finalmente me aventurei pela capital da Colômbia. Vergonhosamente admito que não pesquisei absolutamente nada sobre Bogotá, deixando tudo a cargo de dois amigos brasileiros que, na ocasião, residiam na cidade. Infelizmente, por causa da curta estadia, apenas o primeiro dia foi realmente proveitoso. Também atribuo a isso o fato de que dentre os meus “guias”, aquele que era o mais afeiçoado pela cidade não pôde nos acompanhar nos dias que se seguiriam. Foi inclusive através das sugestões dele que tive a oportunidade de usufruir do transporte público e de apreciar muitas das comidas típicas encontradas nas ruas de Bogotá.


Logo no primeiro dia tomamos um TransMilenio (sistema BRT local, bem elogiado entre alguns bogotanos), e cruzamos uma boa parte da cidade, de oeste até o limite leste, para desembarcar em La Candelaria. Foi neste bairro que a cidade de Bogotá se originou, e por este motivo se encontram ali algumas das mais significativas universidades, prédios históricos e museus. Bem no coração de La Candelaria está a Plaza Bolívar, local onde se passaram vários episódios importantes da história do país, e que compreende o Palácio da Justiça, Capitólio Nacional e a Primeira Catedral de Bogotá. Bem próximos dali se encontram o Museo Botero e o Centro Cultural Gabriel García Márquez, locais dedicados à duas notáveis figuras responsáveis por retratar, cada qual a sua maneira, os aspectos sociedade colombiana. Bogotá aliás, possui um ótimo circuito cultural, que incluí o Museu do Ouro (recomendadíssimo àqueles que têm interesse na arte dos povos pre-colombianos), Museu Histórico, Planetário de Bogota, e o Museu de Arte Moderna, entre tantos outros que merecem uma visita atenta.


Nas palavras dos meus amigos, “turista que se preza não deve ir embora sem conhecer o Cerro de Monserrate”. Enquanto muitos colombianos vão até lá por da causa do Santuario del Señor Caído de Monserrate, nós turistas ascendemos seus 3152m de altitude por causa de seu famoso mirante. Apesar do dia ter amanhecido frio e chuvoso (é bom ressaltar que este é o clima habitual em Bogotá), e com a visibilidade um pouco restrita, poder apreciar Bogotá inteira lá de cima valeu muito a pena.
Como eu não fazia idéia do que iria ver em Bogotá cheguei sem muitas expectativas, e talvez por conta disso eu tenha me surpreendido tão positivamente com essa adorável cidade. Voltei de lá carregada de pacotes de café, e com muita disposição para retornar o mais breve possível.

(Crédito de todas as fotos no post: Sandra Rybicki)

A colorida não-florida Bogotá

Por Angela Teberga

As rosas colombianas sempre me encantaram e, passando uma temporada na Colômbia, minha esperança era encontrá-las plantadas, num recheado roseiral, cheirá-las e até cuidadosamente espetar os dedos em seus espinhos. Mas, por mais que eu quisesse muito compartilhar essa experiência por aqui, esse texto não se trata de flores, muito menos de rosas. O país – que tem na exportação de flores uma das principais fontes de sua economia – não soube explorar turisticamente seus imensos campos floridos, que estão cobertos por estufas faraônicas. Ah, perdoem-me os floricultores, não entendo nada sobre esse ofício, mas não custava deixar um pedacinho de campo descoberto para observação pelos amantes, né?

Afinal, do que se trata o texto, cujo título indica o colorido não-florido bogotano? De fato, as ruas de capital são coloridas, mas não-floridas. Não vi um único ambulante comercializando rosas, por exemplo (ao contrário da mística Cartagena das Índias, repleta de flores nas janelas e sacadas dos casebres e casarões de sua Cidade Murada). Onde estão as cores da cidade, então? A resposta é simples: estão estampadas nas paredes, nos murais e nas construções. Não estou falando de quaisquer grafites, estou falando de arte! Arte urbana contemporânea.

Em tempos de cidades intensamente urbanizadas (Bogotá tem mais de 10 milhões de habitantes!) e largamente acinzentadas (qualquer lembrança da Paulicéia não é mera coincidência), é a arte urbana que dá vida e cor ao concreto e ao cotidiano dos citadinos. O mundialmente conhecido Banksy também ensina que a arte pode fazer pensar!

Até para os mais ortodoxos, é impossível passar batido pelos belos e grandiosos murais de grafite da capital Colombiana. São ilustrações de sutis críticas ao sistema; ou, simplesmente, desenhos abstratos, de encantadora estética. Logo na avenida do Aeroporto El Dorado que dá acesso ao centro da cidade, há um extenso painel ilustrado. Outros grafites podem ser encontrados em construções e muros (alguns escondidos, outros, menos) pela cidade. Quem sabe, um dia, o medellinense Botero não se aventura nessa técnica!

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O mais interessante de tudo isso, é que Bogotá (sociedade civil e governo local) parece ter compreendido a riqueza, beleza e importância social dessa forma de expressão. Inclusive, não me admiraria se, daqui algum tempo, passarem a tratá-la como patrimônio artístico local. Do ponto de vista do turismo, meu palpite se confirma. O próprio TripAdvisor sugere uma excursão intitulada “Bogota Graffiti Tour” – está em 1º lugar das 113 excursões na cidade. Os comentários dos turistas são, em sua maioria, elogios ao passeio, como: “Nova forma de fazer turismo”; “A melhor coisa que fiz em Bogotá”; e “Super recomendado”.

Na contramão do movimento, a maior cidade do Brasil, São Paulo, amanheceu no último mês sem cor. A tinta cinza que encobriu as ilustrações dá continuidade aos tons do cimento. O maior mural de grafite da América Latina foi destruído. Uma lástima, um crime? Não sei afirmar. Digo apenas que, depois dessa temporada no país colombiano, Bogotá pode e deve ser nossa inspiração em termos de valorização de arte urbana.