Por Sandra Rybicki
Já de cara peço desculpas aos leitores caso eu pareça um pouco deslumbrada neste texto. Como cheguei do Japão há pouco mais de duas semanas o entusiasmo ainda está bem patente, afinal foram “apenas” 20 anos entre cogitar conhecer o Japão e tornar essa viagem realidade…Dá pra imaginar como me senti ao chegar lá, não? Como há muitas coisas a se falar sobre este país, vou deixar aqui algumas impressões gerais, e talvez, em algum texto posterior, eu possa abordar um tópico específico.
A estátua do cão Hachiko, em Shibuya.
Kakigoori, ou raspadinha. Indispensável pra suportar o verão japonês!
Moças vestidas com yukata, no templo Kiyomizudera, em Kyoto.
Templo Fushimi Inari, em Kyoto.
O belíssimo corredor de toriis do templo Fushimi Inari
Tokyo vista da Sky Tree, a torre mais alta do Japão.
Das viagens que fiz essa foi a mais cansativa de todas, pois desta vez o planejamento demandou um esforço bem maior que o de costume, mas nem por isso foi menos empolgante. Os preparativos iniciaram há pelo menos 6 meses atrás, e incluíram desde extensas pesquisas sobre o Japão (costumes, roteiros, etc.), até voltar a estudar o idioma japonês. As listas de coisas que eu queria fazer e lugares que desejava conhecer eram tão grandes que, se não fosse dessa maneira, eu não conseguiria aproveitar plenamente o passeio. Ah! Exaustivas também foram as 27 horas de voo (com uma escala em Frankfurt) para ir e para voltar! Bem que o Japão podia ser mais pertinho…
Pousei no aeroporto de Haneda acompanhada pela minha mãe, e recepcionada por uma forte chuva que nos perseguiu por quase uma semana. Ao desembarcar você já tem um vislumbre de tudo que te espera do lado de fora: a limpeza dos banheiros, a agilidade na migração, o cuidado com as bagagens na esteira, e a sinalização eficiente foram só uma mostra do que eu veria nos próximos dias.
Fiquei 14 dias em Tokyo, e durante este período optei por me hospedar num apartamento, não somente por ser mais em conta do que um hotel, mas também para poder vivenciar mais o dia a dia da cidade. Coisas corriqueiras como caminhar pelo bairro, circular de metrô pela cidade, ou até ir ao supermercado, se tornaram experiências incríveis. Infelizmente não consegui realizar tudo que havia planejado, até porque eu queria aproveitar BEM cada passeio ao invés de fazê-los correndo. O que também nos levou a fazer as coisas com um pouco mais de calma, foi o calor. A escolha pelo mês de agosto se deu por conveniência, mas não foi uma boa idéia devido às altas temperaturas, chuvas, e umidade excessiva. O verão lá é cruel demais, e no fim da tarde já estávamos esgotadas. Meus melhores amigos, além do Google, foi uma inseparável toalhinha para enxugar o suor, e as jihanki (máquinas de venda), onde a cada esquina eu me acabava em chás gelados, isotônicos e MUITA água!
A cidade de Yokohama à noite
Senhoras rezando no templo Sensoji, em Asakusa.
Um templo perdido em meio a uma das ruas comerciais de Kyoto
Banca de conservas em Nishiki Ichiba (kyoto)
Imagem do cotidiano: esperando o trem na famosa linha Yamanote
A primeira coisa que me surpreendeu, ainda no caminho entre o aeroporto e o apartamento, foi a excepcional limpeza e organização dos espaços públicos. Pra mim, que moro no Brasil, ver ruas limpas e bem conservadas até perturbou um pouco! E é ainda mais estranho – e igualmente agradável – constatar que quase não há lixeiras pela cidade. Os banheiros públicos (mesmo os das estações mais movimentadas) são incrivelmente limpos! Ficou bem claro pra mim que japoneses têm consciência de que o que é público é de uso de todos, e portanto deve ser preservado. Parece óbvio, mas é exatamente o contrário da idéia que vemos por aqui de que, “se é público alguém vai cuidar disso por mim”.
Crianças caçando Libélulas no parque Yoyogi.
A agitada vida noturna de Shinjuku!
Ritual no templo Sensoji, em Asakusa.
Os belíssimos jardins do templo Ginkakuji, em Kyoto.
Outro aspecto positivo que presenciei no Japão foi a segurança. Como uma boa moradora de São Paulo, já subi no metrô protegendo minha bolsa como se minha vida dependesse dela. Ao chegar em Shibuya notei que, mesmo em meio aquela multidão toda, algumas mulheres andavam com suas bolsas abertas. Nos restaurantes era comum ver as pessoas abandonarem as mochilas nas cadeiras para guardar lugar enquanto iam buscar seus lanches. Aos poucos fui relaxando e até andei sozinha à noite em bairros que os japoneses consideram “perigosos”, sem me sentir ameaçada em momento nenhum. Uma amiga que mora lá há uns 15 anos me contou que perdeu a conta de quantas vezes vagueou de madrugada pelo parque Yoyogi com as amigas, esperando o primeiro trem para voltar para casa. Esse caso, aliás, resume bem o nível de segurança que encontrei no país.
Quanto à receptividade aos estrangeiros, os relatos que ouvimos são verídicos, e no geral fui muito bem tratada por todos com quem tive a oportunidade de interagir. Em Kyoto, o Google resolveu me deixar na mão e recorri à ajuda de um senhor, que além de me mostrar o local que eu procurava num mapa, ainda desviou do seu caminho para me acompanhar até lá. No mesmo dia, porém, um rapaz simplesmente se recusou a falar comigo, mesmo eu tendo pedido educadamente a informação em japonês…Em um mesmo dia pude provar tanto da cordialidade quanto do preconceito sobre o qual já tinha ouvido falar. Sei que a sociedade japonesa não se resume ao quadro de aparente “perfeição” que descrevi aqui. Há muitos problemas sociais que advêm de questões culturais e que podem ser difíceis para nós, ocidentais, compreendermos. Mas como falei no início deste texto, estas são apenas impressões de uma turista, e não de alguém inserido no sistema corporativo ou educacional deles (de onde se poderia opinar apropriadamente sobre estas questões).
Agora, uma coisa é fato: já sinto saudades dos dias que passei por lá, e estou programando outra ida para o Japão em breve.
(Crédito de todas as fotos no post: Sandra Rybicki)