10 diferenças Barcelona e SP – parte 2 (agora, pra valer)

Por Maurício Kanno

[Imagem: Subida para o Monjuic e Plaça Espanya, em Barcelona (esq.) e moradores de rua na Praça da Sé, em São Paulo (dir.) / Fotos do autor]

Caros leitores, desculpem pela demora. Estive em fim de mestrado, então minha produção destas análises comparativas entre São Paulo e Barcelona acabaram demorando mais que o previsto. Ao menos eu consegui, após iniciar no fim de outubro de 2017, concluir no fim de novembro, um mês depois, minhas análises dos dois primeiros tópicos planejados, ou seja: 1) Independentismo, nacionalismo e idiomas e 2) Terrorismo, violência e miséria. Particularmente o primeiro macro-assunto foi profundamente explorado, mas o segundo também foi bem cuidado, a meu ver.

Cheguei até a criar outro post no blog, no fim de novembro, com a intenção de complementar depois, mas foi inviável, devido à reta final do mestrado. Agora que consegui uma pequena prorrogação, dou-me o direto de tentar avançar mais um pouco nesta trajetória comparativa. Então tinha ficado apenas a lista de tópicos ali, mas pretendo excluir, pois ficou sem sentido.

Seja como for, lá vão os tópicos que pretendo ao menos brevemente explorar agora por fim (consegui trabalhar 5 tópicos hoje; outros três ficam para depois):

3) Arquitetura e paisagem urbana

4) Temperatura do chuveiro

5) Restaurante por quilo e pizza

6) Composição da população por imigrantes

7) Catraca do trem, do ônibus e balança do supermercado

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Agora, rumo às discussões e impressões:

3) Arquitetura e paisagem urbana

 

Barcelona tem cara de Itália, Inglaterra, pelas minhas lembranças anteriores. É muito prédio bonito preservado. Conserva-se bastante da arquitetura antiga, de séculos e séculos atrás. Porém, ainda me parece diferente dos lugares que visitei na Inglaterra e Itália. Na Inglaterra, tudo parecia ter um toque mais medieval pra valer, com jeitão de castelos mesmo (mas só conheci Londres e uma cidade no meio do país, Google, Yorkshire). Na Itália, bem, não cheguei a conhecer muito, mais Veneza, com suas pontes inúmeras sobre inúmeros canais. Era um aspecto mitológico, eu diria, uma outra dimensão mesmo. Já Barcelona, ainda que seja muito bonita, com as sacadas nos prédios que me encantavam, tinha cara mesmo de cidade real.

Já explorei um pouco de minhas impressões iniciais sobre a arquitetura de Barcelona em outro post, publicado quando eu ainda estava lá. O que mais importa dizer agora é que eu, habituado tanto com São Paulo, fiquei deslumbrado com Barcelona porque a cidade era muito mais bonita a meu ver, mais limpa. Preservava tradições arquitetônicas. São Paulo parece ser simplesmente funcional em sua arquitetura usual das casas e prédios.

Já me disseram que SP lembra muito grandes cidades dos Estados Unidos, das quais a metrópole brasileira teria se inspirado. Mas não sei bem, pois nunca conheci bem esse país norte-americano. Só visitei a Flórida, entre Miami e Orlando. De fato, pelo que conheci ao menos, minha cidade brasileira parece mesmo um arremedo mal feito de grandes cidades dos EUA. Ainda que, claro, onde estive lá tem mais cara de Rio de Janeiro, que é também no litoral… e também uma metrópole.

 

São Paulo pra mim é uma cidade, comparada com essas outras citadas, feita sem o menor planejamento, de modo descuidado, sem capricho. Claro que há exceções em prédios como o Hotel Unique, o Copan, o Memorial da Aémrica Latina, etc. Mas é isso, apenas exceções. Refiro-me ao padrão nas ruas e prédios em geral tomadas e tomados aleatoriamente. Fora a sujeita espalhada pelas ruas de SP que eu não via nessas outras… E o grande contingente de moradores de rua e pedintes… 😦 Obviamente eles não são o problema, não se deve “resolvê-los” com políticas “higienistas”, expulsando-os das ruas quando aparece o papa ou presidentes estrangeiros, por exemplo. Eles apenas demonstram os sintomas de uma cidade doente.

4) Temperatura do chuveiro

Parece uma piada, mas se tem uma grande vantagem que eu vejo em São Paulo (ou em outras cidades brasileiras em que estive) que não vi em Barcelona foi a facilidade para se usar o chuveiro e tomar banho! Sim! Olha, eu “morei” ao longo dos três meses que passei em Barcelona, entre julho e outubro de 2017, em umas 4 ou 5 casas ou apartamentos diferentes. E sempre eu tive dificuldades para algo tão básico quanto ajustar a água numa temperatura adequada, que não fosse nem tão fervendo de quente nem tão gelada! Que aflição! Rs.

Ah, claro, pra completar em relação ao chuveiro, a água frequentemente saía meio viscosa; como se fosse até água do mar. Em diferentes apartamentos, não foi apenas um. Em diferentes bairros. Era como se eu estivesse tentando lavar o cabelo e mesmo assim ele seguia duro, difícil de amaciar.

Disseram-me que a água brasileira tem muito mais qualidade. Não duvido. Afinal, sea Europa tem séculos de desenvolvimento de sua civilização em termos culturais, etc., também teve séculos de exploração ambiental. Até pra lavar a roupa, um anfitrião meio me dizia pra usar um produto pra não estragar a roupa…

5) Restaurante por quilo e pizza

 

Outra vantagem de São Paulo, pra não imaginarem que é tão ruim assim morar no Brasil e nesta que é a maior capital do país sul-americano: comida. Eu sou vegano, de modo que frequentemente enfrento dificuldades para obter minhas refeições em restaurantes “a la carte”, em que precisamos pedir ao garçom entre opções pré-montadas. Porém, como no geral as pessoas comem carne e queijo com uma frequência impressionante, praticamente tudo, pra não dizer todos os pratos dos cardápios, contêm carnes e derivados de animais!

No Brasil, seja em São Paulo, assim como em outras cidades que já visitei deste país, como Belo Horizonte, entre outras do litoral brasileiro, existe o sistema “self-service” ou “por quilo”. Isso salva a pele de qualquer vegano ou vegetariano. Porque aí é só a gente ir escolhendo o que a gente quer de cada alimento e pronto, sem burocracia e sem ter que ficar dando explicações ao garçom. O problema é que eu nunca vejo isso em outros países que visitei, seja EUA ou na Europa ou até no Japão. Essa é uma grande maravilha brasileira que deveria ser também utilizada no exterior, em minha opinião. Muito prático e livre.

Outro tópico é a pizza. As pizzas de SP são excelentes, caprichadas, bem recheadas. E até mesmo quando peço numa pizzaria não vegana, comum, ao lado de casa, longe do centro, uma pizza vegana, eles conseguem adaptar e fazem uma pizza realmente caprichada.

 

Porém, na Europa, seja em Veneza ou em Barcelona, minha experiência com pizzas foi um desastre. Eles botavam uns pingadinhos de nada de uns vegetais espalhadas aqui e ali e acabou. Não sei se para pizzas não veganas também seria ruim a experiência, mas ao pedir essa adaptação foi assim que passei.

6) Composição da população por imigrantes

Todo país tem seus imigrantes, que não fazem parte da população original, né? Apesar de que, é claro, difícil falar em “povos originais”. No Brasil, havia o que chamamos de indígenas, e recomendo a leitura do livro 1499 – O Brasil Antes de Cabral, escrito pelo meu ex-chefe, jornalista Reinaldo José Lopes, para compreender melhor essa civilização antiga. Mas agora não temos praticamente ninguém mais desse nosso povo original brasileiro. O que temos é uma mistura de, principalmente, descendentes dos portugueses, que chacinaram esses habitantes originais; com os negros africanos, que foram trazidos forçados ao Brasil, como escravos. Com alguma mistura geral ainda em nossos genes desses indígenas; pelo que escreveu o Reinaldo. Além de descendentes de imigrantes que já estão aqui há tanto tempo que já se incorporaram, como de italianos, alemães, libaneses e japoneses (caso de minha família, misturada provavelmente com portugueses).

Então é basicamente nisso que se constitui o povo “não imigrante” do Brasil. E quem seriam os imigrantes de agora? Bem, ao menos no caso de São Paulo, parece-me haver ainda muita herança da imigração interna nacional. Muitos vieram do Nordeste, que era o centro econômico brasileiro em outros séculos, mas hoje está relativamente defasado perto do Sudeste e Sul. É certo que essa composição de migrantes nordestinos em SP já se reduziu, porque saturou a cidade. Mas ainda deve haver bastante. Fora eles, há gente de outros estados brasileiros, já que SP é encarada como o lugar das oportunidades econômicas pra muita gente mesmo daqui.

Não vejo tanta gente de outros países em SP comparando-se com Barcelona. Por quê? Oras, veja o tamanho do Brasil. É praticamente do tamanho da Europa. Então, quando falarmos de migração no Brasil, deve-se sim valorizar a migração interna. É como se cada Estado brasileiro fosse um país europeu, em termos geográficos. É claro que com a ressalva de que há as diferenças de idiomas, nacionalismos, etc. que já discuti no post anterior.

Em Barcelona, era extremamente normal encontrar atendentes de lojinha quaisquer na rua, em todo quarteirão, via de regra paquistaneses, principalmente; ou outros asiáticos de regiões próximas; ou chineses, também asiáticos. Era raro ser atendido nas lojas comuns de vendinhas por algum “catalão” nativo. Apesar que estes frequentemente me atendiam sim nos caixas de supermercados, por exemplo. Os nativos catalães referiam-se frequentemente a “paki” para se referir às lojinhas de produtos gerais, como mercadinhos, gerenciadas e/ou mantidas/atendidas por paquistaneses (apesar que também conheci atendentes do Sri Lanka ou Índia por exemplo). Também já ocorreu de uma catalã profissional de uma academia de musculação referir-se a um “chino” como lojinha de produtos gerais de uma atendente chinesa.

7) Catraca do trem, do ônibus e balança do supermercado

 

Algo que surpreende brasileiros como eu ao passar um tempo vivendo o cotidiano em Barcelona (e Europa em geral, creio eu) é o modo de realizar as compras e fazer pagamentos, seja no supermercado ou no transporte público. É outro nível de confiança no consumidor e cidadão.

No Brasil em geral, parece-me, ao menos em SP, vc sempre tem que pedir a um atendente para pesar os vegetais que você escolheu no supermercado. Frutas, legumes, etc. Em Barcelona, sempre era você mesmo que fazia isso. Olhava os códigos dos produtos, digitava na balança o código, conforme o produto, e então clicava no botão adequado, e saía o preço, conforme o peso do produto. Oras, mas assim é muito fácil manipular, botar frutas ou legumes a mais ou coisa parecida, não? Pois é, mas em Barcelona eles devem estar acostumados com a honestidade. Nâo tem “jeitinho brasileiro” corrupto. Que de forma alguma ocorre apenas na política, como a galera adora apontar o dedo “aos outros”. Parece ser cultura nacional da população.

Além disso, no transporte público não tem catraca. Ao menos no ônibus. Você simplesmente tem que entrar no ônibus e passar o seu bilhete na máquina registradora de sua passagem. Só. Ué, mas e aí fica muito fácil pra não pagar, né? Se vc der uma de espertinho? Talvez… Dizem que o motorista fica atento e repara, mas duvido que consiga dar conta de reparar em todo mundo que entra no ônibus caso tenha quem não queira pagar. Até tem multa, enfim… Mas é aquela coisa de novo: espera-se honestidade como padrão do comportamento das pessoas na Europa. Já no Brasil, espera-se que você pode provavelmente passar a perna em alguém. No metrô até tem catraca pra poder entrar na estação. Mas não vi catracas em estações de trem. Você apenas tinha que comprar seu bilhete e entrar no trem. Confiam em sua honestidade.

 

Ah, uma coisa que devo criticar porém do transporte público de metrô principalmente em Barcelona é que não tem tantos lugares pra segurar quando você está de pé, o que dificulta o equilíbrio quando o trem está cheio. Já em São Paulo e no Japão (principalmente) tem bastante onde segurar.

Ah, e algo bom do metrô de Barcelona é que você pode levar seus animais de estimação! Só pedem focinheira (mas uma pessoa pra quem perguntei estava com o cãozinho dela sem focinheira mesmo, e falou que caso alguém reclamasse, ela colocava). Mas é muito melhor que em São Paulo, onde é proibido…

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Ok, acho que já consegui avançar bem, né? Faltaram apenas três tópicos propostos, que deixarei pra depois, espero que mẽs que vem:

8) Veganismo: produtos anunciados

9) Jeitão dos nativos

10) Tamanho da cidade e tempo de transporte

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Espero que você tenha apreciado minhas análises e impressões comparativas, que te sirvam de algum proveito, e que comente com sua opinião também! Abraço e até logo!